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Reminiscências Patogênicas
A suposta “autonomia patológica das
doenças mentais”, motivou os precursores da psicologia no emprego da
reminiscência como instrumento de suas pesquisas. A integração de resultados –
de cada um deles – repercutiu numa surpreendente elucidação – de fatos
categóricos – da personalidade, até então desconhecidos, ou melhor, ainda não
comprovados cientificamente. Deve-se a Charcot a realização mais ousada em
pesquisas psiquiátricas; vale dizer, antes dele, a psiquiatria nem estava
incluída no currículo de medicina. Então, a descoberta de Mesmer estimulou a
prática sistemática da hipnose. A hipnose – ou magnetismo animal como chamava –
nem era bem vista, mas como ele era um clínico respeitável, a academia aprovou
suas pesquisas. Estava fixado na questão dos histéricos, entre os quais
pretendia encontrar o elo psíquico perdido – nos níveis da psiquiatria – pelo
significado da histeria e demência precoce.
Na alusão entre ambas as doenças, por
reconhecimento seriam semelhantes demais, pelo menos de acordo com a
sintomatologia, visto que ainda assim a histeria parecia ser o pólo oposto da
demência precoce. Era como se o sintoma (do histérico) reagisse intrinsecamente
na preparação para a manifestação do outro efeito (demência precoce). E, nos
níveis da letargia profunda – hipnotismo – estava comprovada a presença (tônus)
de um fator ressonante da personalidade, inegável, que determinava ambos os
tipos sintomáticos. Isso se tornou o grande interesse de Charcot pela histeria,
que parecia ser ponto de partida na solução dos mais sérios distúrbios mentais.
As constatações eram baseadas
conforme o seguinte:
Semelhanças Entre Histeria e Demência Precoce:
Limitação da consciência
Distúrbios da atenção – distração – preocupação vaga, estados de delírios e alucinações – idéias obsessivas. A fixação afetiva inibindo a associação de idéias – bloqueia o raciocínio.
Tendência a fugir de assuntos em pauta nos relacionamentos sociais.
Sonhos vívidos – os pacientes atribuem realidades aos sonhos.
A autonomia do complexo ressalta a indolência, indecisão, monotonia e cansaço
Automatismo do sistema motor – descontrole físico nervoso.
Diferenças
Fatos nos estados histéricos:
O delírio histérico sempre evidencia o conteúdo do complexo.
Os estados de lucidez são duradouros, mesmo sob condições letárgicas, alucinatórias ou hipnóticas, com maior ou menor manifestação de confusão.
Falta de espontaneidade, ou inibição dos sentimentos normais em situações críticas emocionais. O paciente não se sensibiliza como normalmente deveria. Sentimento de estranheza sobre a realidade de fatos atuais.
Na histeria a psique mantém um complexo que se torna quase insuperável. Isso significa que um forte complexo da personalidade pode levar a estados de histeria.
Fatos Constatados na Demência Precoce
Na demência precoce a alienação se efetiva de modo insuperável, onde a congruência pode surgir apenas de modo súbito, com relevantes períodos de confusão. Na histeria as condições são opostas: os distúrbios ocorrem apenas durante as crises.
A demência precoce se evidencia com o seguinte:
Na sugestão – hipnose – muitos elementos estranhos ressurgem e insurgem contra os assuntos expostos.
A lucidez pode passar instantaneamente, da clareza para a mais autêntica confusão.
O distúrbio da atenção é praticamente constante. A atenção inexiste de modo geral.
O paciente permanece concentrado no complexo autônomo, o qual inibe as demais atividades psíquicas.
Nos diálogos podem ocorrer respostas lúcidas, que são imediatamente substituídas por determinações das mais absurdas.
Se queixam que as idéias se dissolvem, justamente quando querem pensar ou dizer alguma coisa.
Freqüentemente, tornam-se lúcidas, durante doenças fisiológicas, no caso quando se requer de certos cuidados especiais – ou de tratamentos médicos.
O interesse se fixa exclusivamente no complexo insuperável – e autônomo -, que é simbolicamente transparente.
A alienação com a realidade é o seu fator comum – a demência precoce é praticamente incurável.
Com toda essa referência sobre histeria e demência precoce, estava comprovada – já naquele tempo – a autônoma relevância de certa qualidade da personalidade – até então desconhecida -, que exercia inevitável supremacia sobre a mente humana. Muito embora, tenha passado despercebido, através da hipnose, Charcot lidou com o mais autêntico fator da personalidade – sua manifestação mais elevada –: o espírito; que jamais se encontraria para ser confundido com o complexo autônomo.
Por isso, Charcot pode ser considerado o mais ousado dos psiquiatras, como também o mais imprudente de todos. Talvez, foi por isso que Freud – bem mais prudente – abandonou de vez as sistemáticas práticas de hipnose, associando esse “elemento espiritual da personalidade” ao seu teórico superego, o qual por "suspeita" preferiu manter no nível do inconsciente.
Por isso, Charcot pode ser considerado o mais ousado dos psiquiatras, como também o mais imprudente de todos. Talvez, foi por isso que Freud – bem mais prudente – abandonou de vez as sistemáticas práticas de hipnose, associando esse “elemento espiritual da personalidade” ao seu teórico superego, o qual por "suspeita" preferiu manter no nível do inconsciente.
Estas descrições históricas de experiências psiquiátricas, talvez não sejam de grande interesse, mas servem para indicar os “moldes” adotados em pesquisas – na época -, quando – tal qual um “vírus acadêmico” – passou a predominar pelo atual – método científico (implantado por Darwin).
Como representava "orgulho", pelo significativo da “moda”, bastava partir dos efeitos – em acirradas observações – para se poder encontrar a causa.
Sem dúvida, foram surpreendentes as conclusões obtidas por esse método, o qual dispensava “bases morais” – inclusive pela falta de noções entre bem e mal -, e até mesmo contra a própria lei de reciprocidade. A razão deste texto também consiste em poder assinalar a época, que deu início a esse predomínio do método acadêmico.
Como representava "orgulho", pelo significativo da “moda”, bastava partir dos efeitos – em acirradas observações – para se poder encontrar a causa.
Sem dúvida, foram surpreendentes as conclusões obtidas por esse método, o qual dispensava “bases morais” – inclusive pela falta de noções entre bem e mal -, e até mesmo contra a própria lei de reciprocidade. A razão deste texto também consiste em poder assinalar a época, que deu início a esse predomínio do método acadêmico.
(continua)
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