terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O Arquétipo Materno






O ARQUÉTIPO MATERNO

por Carl Gustav Jung

Como todo arquétipo, o materno também possui uma variedade incalculável de aspectos.

Menciono apenas algumas das formas mais características: a própria mãe e a avó; a madrasta e a sogra; uma mulher qualquer com a qual nos relacionamos, bem como a ama-de-leite ou ama-seca, a antepassada e a mulher branca; no sentido da transferência mais elevada, a deusa, especialmente a mãe de Deus, a Virgem (enquanto mãe rejuvenescida, por exemplo, Demeter e Core), Sofia (enquanto mãe que é também a amada, eventualmente também o tipo Cibele-Átis, ou enquanto filha-amada (mãe rejuvenescida); a meta da nostalgia da salvação (Paraíso, Reino de Deus, Jerusalém Celeste); em sentido mais amplo, a Igreja, a Universidade, a cidade ou país, o Céu, a Terra, a floresta, o mar e as águas quietas: a matéria, o mundo subterrâneo e a Lua; em sentido mais restrito, como o lugar do nascimento ou da concepção, a terra arada, o jardim, o rochedo, a gruta, a árvore, a fonte, o poço profundo, a pia batismal, a flor como recipiente (rosa e lótus); como círculo mágico (a mandala como padma) ou como cornucópia; em sentido mais restrito ainda, o útero, qualquer forma oca (por exemplo, a porca do parafuso); a yoni; o forno, o caldeirão; enquanto animal, a vaca, o coelho e qualquer animal útil em geral.

Todos estes símbolos podem ter um sentido positivo, favorável, ou negativo e nefasto. Um aspecto ambivalente é a deusa do destino (as Parcas, Gréias, Nomas). Símbolos nefastos são bruxa, dragão (ou qualquer animal devorador e que se enrosca como um peixe grande ou uma serpente); o túmulo, o sarcófago, a profundidade da água, a morte, o pesadelo e o pavor infantil (tipo Empusa, Lilith, etc.). Esta enumeração não pretende ser completa. Ela apenas indica os traços essenciais do arquétipo materno. Seus atributos são o "maternal": simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal. Estes atributos do arquétipo materno já foram por mim descritos minuciosamente e documentados em meu livro Símbolos da Transformação. Nesse livro formulei as qualidades opostas desses atributos que correspondem à mãe amorosa e à mãe terrível.

O paralelo histórico que nos é mais familiar é, com certeza, Maria, que na alegoria medieval é simultaneamente a cruz de Cristo. Na índia, seria a Kali contraditória. A filosofia samkhya elaborou o arquétipo materno no conceito de Prakrti, atribuindo-lhe os três gunas como propriedades fundamentais, isto é, bondade, paixão e escuridão - sattwa, rajas, tamas (Este co significado elimologico das três gunas. Veja WECKERLING [ed.], Das Glück des tebens. Medizinisches Drama von Anaiularâyamakltf. p. 21s, e GARBE, Die Sâmkhya-Philosophie. p. 272s.). Trata-se de três aspectos essenciais da mãe, isto é, sua bondade nutritiva e dispensadora de cuidados, sua emocionalidade orgástica e a sua obscuridade subterrânea. O traço especial na lenda filosófica que mostra Prakrti dançando diante de Purusha a fim de lembrá-lo do "conhecimento discriminatório" não pertence diretamente à mãe, mas ao arquétipo da anima. Este último se mistura imediata e invariavelmente com a imagem da mãe na psicologia masculina. Embora a figura da mãe, tal como aparece na psicologia dos povos, seja de certo modo universal, sua imagem muda substancialmente na experiência prática individual. Aqui o que impressiona antes de tudo é o significado aparentemente predominante da mãe pessoal.

Essa figura sobressai de tal modo em uma psicologia personalista que esta última, como é sabida, jamais conseguiu ir além da mãe pessoal, seja em suas concepções ou mesmo teoricamente. Para ir diretamente ao assunto, a minha concepção difere da teoria psicanalítica em princípio, pelo fato de que atribuo à mãe pessoal um significado mais limitado. Isto significa que não é apenas da mãe pessoal que provêm todas as influências sobre a psique infantil descritas na literatura, mas é muito mais o arquétipo projetado na mãe que outorga à mesma um caráter mitológico e com isso lhe confere autoridade e até mesmo numinosidade (A psicoîogia americana nos fornece uma grande quantidade de exemplos neste sentido. Generation of Vipers de WYLIE constitui uma verdadeira sátira a acerca disso, mas com intenções educativas.).

Os efeitos etiológicos, isto é, traumáticos da mãe devem ser divididos em dois grupos: primeiro, os que correspondem à qualidade característica ou atitudes realmente existentes na mãe pessoal. Segundo, os que só aparentemente possuem tais características, uma vez que se trata de projeções de tipo fantasioso (quer dizer, arquetípico) por parte da criança. O próprio FREUD já reconhecia que a verdadeira etiologia das neuroses não tinha suas raízes, como a princípio supunha, em efeitos traumáticos, mas principalmente num desenvolvimento peculiar da fantasia infantil. É inegável a possibilidade de que um tal desenvolvimento possa ser atribuído às influências perturbadoras da mãe.
Por isso, procuro antes de mais nada na mãe o fundamento das neuroses infantis, na medida em que sei por experiência que é muito mais provável uma criança desenvolver-se de um modo normal do que neuroticamente e que na maioria dos casos podemos rastrear as causas definitivas de distúrbios nos pais e, principalmente, na mãe. Os conteúdos das fantasias anormais só podem referir-se parcialmente à mãe pessoal uma vez que freqüentemente eles aludem de modo claro e inequívoco a coisas que ultrapassam o que se poderia atribuir a uma mãe real. Isto principalmente quando se trata de imagens declaradamente mitológicas, tal como ocorre muitas vezes com fobias infantis, em que a mãe aparece sob a forma de um animal, de uma bruxa, fantasma, canibal, hermafrodita e coisas deste tipo. Mas como as fantasias nem sempre são manifestamente mitológicas ou, se o forem, não provêm necessariamente de um pressuposto inconsciente, podendo originar-se em contos de fada, em observações casuais, etc., é recomendável fazer uma cuidadosa investigação em cada caso. Por razões práticas, tal investigação não pode ser levada a cabo tão facilmente nas crianças como nos adultos, os quais geralmente transferem suas fantasias para o médico durante a terapia, encontrando-se estas, portanto, em estado de projeção. Não basta então reconhecê-las e depois descartá-las como algo ridículo - pelo menos definitivamente - pois os arquétipos constituem um bem inalienável de toda psique, "sendo o tesouro no campo dos pensamentos obscuros", no dizer de KANT, vastamente documentado por inúmeros temas do folclore.

 Um arquétipo, por sua natureza, não é de modo algum um preconceito simplesmente irritante. Ele só o é quando não está em seu devido lugar.  Pertence aos mais supremos valores da alma humana, tendo por isso povoado os Olimpos de todas as religiões. Descartá-lo como algo insignificante representa realmente uma perda. Trata-se muito mais, por conseguinte, de solucionar essas projeções, a fim de restituir os seus conteúdos àquele que os perdeu por tê-los projetado fora de si, espontaneamente.

Texto extraído contido no livro: Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo


Caracterização Astrológica:

Pelo mapa astrológico de Carl Gustav Jung constam os seguintes indicadores numéricos conforme as posições dos planetas e considerando ainda outros fatores principais:





Para o momento, como importante ressalta-se o Nodo Lunar Norte [ ],o qual se caracteriza pelo número 57 [Outorga]. A Outorga (57) do modo mais explícito, pelos 144 números fundamentalmente também significa: Mãe (curiosamente: “75” resulta em Pai). Jung, por esse indicativo obteve astrologicamente ótimas qualidades para exercer sua função profissional de terapeuta, excelente. O Nodo Norte de um mapa transmite uma influência inevitável na pessoa, principalmente no que tange o modo de atuar cotidiano, portanto, como expressão constante na vida. É notório pelo quanto esse fator indicativo contribuiu também nesta descrição de Jung sobre o Arquétipo Materno. Nesta descrição, nota-se também o emprego prático de Jung por esta definição, do seu próprio conceito de Sincronicidade. Pois, as diversas modalidades provenientes deste arquétipo de mãe que foram citadas, não deixam de serem agrupamentos oriundos de fatores similares (ainda que de certo modo independente), assim como resultam os elementos contidos em razão de Sincronicidade.