O
ARQUÉTIPO MATERNO
por
Carl Gustav Jung
Como todo arquétipo, o
materno também possui uma variedade incalculável de aspectos.
Menciono apenas algumas
das formas mais características: a própria mãe e a avó; a madrasta e a sogra;
uma mulher qualquer com a qual nos relacionamos, bem como a ama-de-leite ou
ama-seca, a antepassada e a mulher branca; no sentido da transferência mais
elevada, a deusa, especialmente a mãe de Deus, a Virgem (enquanto mãe
rejuvenescida, por exemplo, Demeter e Core), Sofia (enquanto mãe que é também a
amada, eventualmente também o tipo Cibele-Átis, ou enquanto filha-amada (mãe
rejuvenescida); a meta da nostalgia da salvação (Paraíso, Reino de Deus,
Jerusalém Celeste); em sentido mais amplo, a Igreja, a Universidade, a cidade
ou país, o Céu, a Terra, a floresta, o mar e as águas quietas: a matéria, o
mundo subterrâneo e a Lua; em sentido mais restrito, como o lugar do nascimento
ou da concepção, a terra arada, o jardim, o rochedo, a gruta, a árvore, a
fonte, o poço profundo, a pia batismal, a flor como recipiente (rosa e lótus);
como círculo mágico (a mandala como padma) ou como cornucópia; em sentido mais
restrito ainda, o útero, qualquer forma oca (por exemplo, a porca do parafuso);
a yoni; o forno, o caldeirão; enquanto animal, a vaca, o coelho e qualquer
animal útil em geral.
Todos estes símbolos
podem ter um sentido positivo, favorável, ou negativo e nefasto. Um aspecto
ambivalente é a deusa do destino (as Parcas, Gréias, Nomas). Símbolos nefastos
são bruxa, dragão (ou qualquer animal devorador e que se enrosca como um peixe
grande ou uma serpente); o túmulo, o sarcófago, a profundidade da água, a
morte, o pesadelo e o pavor infantil (tipo Empusa, Lilith, etc.). Esta
enumeração não pretende ser completa. Ela apenas indica os traços essenciais do
arquétipo materno. Seus atributos são o "maternal": simplesmente a
mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da
razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições
de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do
renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o
obscuro, o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o
apavorante e fatal. Estes atributos do arquétipo materno já foram por mim
descritos minuciosamente e documentados em meu livro Símbolos da Transformação.
Nesse livro formulei as qualidades opostas desses atributos que correspondem à
mãe amorosa e à mãe terrível.
O paralelo histórico
que nos é mais familiar é, com certeza, Maria, que na alegoria medieval é
simultaneamente a cruz de Cristo. Na índia, seria a Kali contraditória. A
filosofia samkhya elaborou o arquétipo materno no conceito de Prakrti,
atribuindo-lhe os três gunas como propriedades fundamentais, isto é, bondade,
paixão e escuridão - sattwa, rajas, tamas (Este co significado elimologico das
três gunas. Veja WECKERLING
[ed.], Das Glück des tebens. Medizinisches Drama von Anaiularâyamakltf. p. 21s,
e GARBE, Die Sâmkhya-Philosophie. p. 272s.). Trata-se de três
aspectos essenciais da mãe, isto é, sua bondade nutritiva e dispensadora de cuidados,
sua emocionalidade orgástica e a sua obscuridade subterrânea. O traço especial
na lenda filosófica que mostra Prakrti dançando diante de Purusha a fim de
lembrá-lo do "conhecimento discriminatório" não pertence diretamente
à mãe, mas ao arquétipo da anima. Este último se mistura imediata e
invariavelmente com a imagem da mãe na psicologia masculina. Embora a figura da
mãe, tal como aparece na psicologia dos povos, seja de certo modo universal,
sua imagem muda substancialmente na experiência prática individual. Aqui o que
impressiona antes de tudo é o significado aparentemente predominante da mãe
pessoal.
Essa figura sobressai
de tal modo em uma psicologia personalista que esta última, como é sabida,
jamais conseguiu ir além da mãe pessoal, seja em suas concepções ou mesmo
teoricamente. Para ir diretamente ao assunto, a minha concepção difere da
teoria psicanalítica em princípio, pelo fato de que atribuo à mãe pessoal um
significado mais limitado. Isto significa que não é apenas da mãe pessoal que
provêm todas as influências sobre a psique infantil descritas na literatura,
mas é muito mais o arquétipo projetado na mãe que outorga à mesma um caráter
mitológico e com isso lhe confere autoridade e até mesmo numinosidade (A psicoîogia americana nos fornece uma grande
quantidade de exemplos neste sentido. Generation of Vipers de WYLIE constitui
uma verdadeira sátira a acerca disso, mas com intenções educativas.).
Os efeitos etiológicos,
isto é, traumáticos da mãe devem ser divididos em dois grupos: primeiro, os que
correspondem à qualidade característica ou atitudes realmente existentes na mãe
pessoal. Segundo, os que só aparentemente possuem tais características, uma vez
que se trata de projeções de tipo fantasioso (quer dizer, arquetípico) por
parte da criança. O próprio FREUD já reconhecia que a verdadeira etiologia das
neuroses não tinha suas raízes, como a princípio supunha, em efeitos
traumáticos, mas principalmente num desenvolvimento peculiar da fantasia
infantil. É inegável a possibilidade de que um tal desenvolvimento possa ser
atribuído às influências perturbadoras da mãe.
Por isso, procuro antes
de mais nada na mãe o fundamento das neuroses infantis, na medida em que sei
por experiência que é muito mais provável uma criança desenvolver-se de um modo
normal do que neuroticamente e que na maioria dos casos podemos rastrear as causas
definitivas de distúrbios nos pais e, principalmente, na mãe. Os conteúdos das
fantasias anormais só podem referir-se parcialmente à mãe pessoal uma vez que
freqüentemente eles aludem de modo claro e inequívoco a coisas que ultrapassam
o que se poderia atribuir a uma mãe real. Isto principalmente quando se trata
de imagens declaradamente mitológicas, tal como ocorre muitas vezes com fobias
infantis, em que a mãe aparece sob a forma de um animal, de uma bruxa,
fantasma, canibal, hermafrodita e coisas deste tipo. Mas como as fantasias nem
sempre são manifestamente mitológicas ou, se o forem, não provêm necessariamente
de um pressuposto inconsciente, podendo originar-se em contos de fada, em
observações casuais, etc., é recomendável fazer uma cuidadosa investigação em
cada caso. Por razões práticas, tal investigação não pode ser levada a cabo tão
facilmente nas crianças como nos adultos, os quais geralmente transferem suas
fantasias para o médico durante a terapia, encontrando-se estas, portanto, em
estado de projeção. Não basta então reconhecê-las e depois descartá-las como
algo ridículo - pelo menos definitivamente - pois os arquétipos constituem um
bem inalienável de toda psique, "sendo o tesouro no campo dos pensamentos
obscuros", no dizer de KANT, vastamente documentado por inúmeros temas do
folclore.
Um arquétipo, por sua natureza, não é de modo
algum um preconceito simplesmente irritante. Ele só o é quando não está em seu
devido lugar. Pertence aos mais supremos
valores da alma humana, tendo por isso povoado os Olimpos de todas as religiões. Descartá-lo como algo insignificante
representa realmente uma perda. Trata-se muito mais, por conseguinte, de
solucionar essas projeções, a fim de restituir os seus conteúdos àquele que os
perdeu por tê-los projetado fora de si, espontaneamente.
Texto extraído contido no livro: Os Arquétipos e o
Inconsciente Coletivo
Caracterização
Astrológica:
Para o momento, como
importante ressalta-se o Nodo Lunar Norte [ ☊ ],o qual se caracteriza
pelo número 57 [Outorga]. A Outorga (57) do modo mais explícito, pelos 144
números fundamentalmente também significa: Mãe (curiosamente: “75” resulta em
Pai). Jung, por esse indicativo obteve astrologicamente ótimas qualidades para
exercer sua função profissional de terapeuta, excelente. O Nodo Norte de um
mapa transmite uma influência inevitável na pessoa, principalmente no que tange
o modo de atuar cotidiano, portanto, como expressão constante na vida. É
notório pelo quanto esse fator indicativo contribuiu também nesta descrição de
Jung sobre o Arquétipo Materno. Nesta descrição, nota-se também o emprego
prático de Jung por esta definição, do seu próprio conceito de Sincronicidade.
Pois, as diversas modalidades provenientes deste arquétipo de mãe que foram
citadas, não deixam de serem agrupamentos oriundos de fatores similares (ainda que de certo modo
independente), assim como resultam os elementos contidos em razão de Sincronicidade.