Os
Arquétipos do Inconsciente Coletivo
por
Carl Gustav Jung
Devido ao seu
parentesco com as coisas físicas, os arquétipos quase sempre se apresentam em
forma de projeções, e quando estas são inconscientes, manifestam-se nas pessoas
com quem se convive, subestimando ou Super estimando-as, provocando
desentendimentos, discórdias, fanatismos e loucuras de todo tipo. Não é outra a
razão pela qual se diz que "fulano endeusou sicrano" ou "fulano
de tal é a 'bete noire' de X". Esta é a origem dos mitos modernos, em
outras palavras, dos boatos fantásticos, das mil e uma desconfianças e
preconceitos.! Os arquétipos são, portanto, coisas extremamente importantes, de
efeito considerável, e que merecem toda a nossa atenção.! Não devem ser
simplesmente reprimidos, mas, devido ao perigo! de contaminação psíquica,
convém levá-los muito a sério. Como quase sempre se apresentam sob a forma de
projeções, e estas só são possíveis quando alguém as recebe, avaliar e
julgá-las é extremamente difícil. Pois bem, se alguém projeta o diabo no outro,
é porque essa pessoa tem algo em si que possibilitar a fixação da imagem. Mas
nem por isso essa pessoa tem que ser um diabo. Muito pelo contrário. Pode até
ser uma pessoa boníssima, mas é incompatível com a pessoa que projeta, o que
tem sobre elas um efeito "diabólico" (isto é, separador). Nem a
pessoa que projeta precisa ser diabo (embora deva reconhecer que dentro dela o
diabólico também existe) como ainda por cima foi enganada por ele, uma vez que
o projeta. Mas nem por isso é "diabólica"; pode ser uma pessoa tão
correta quanto a outra. Surgindo o diabo, isso significa que essas duas pessoas
são incompatíveis (pelo menos agora e num futuro próximo), razão pela qual o
inconsciente provoca uma ruptura, afastando-as uma da outra. O diabo é uma
variante do arquétipo da sombra, isto é, do aspecto perigoso da metade obscura,
não reconhecida pela pessoa. 4.
Ver: Die Struktur der Seele em: Seelenprobleme der Gegenwart, 1950, P- 149ss,
Obras Completas, Vol. 8, § 331ss. Outro arquétipo, com o
qual deparamos quase que regularmente nas projeções de conteúdos coletivos do
inconsciente, é o "demônio mágico", de efeito predominantemente
sinistro Bons exemplos são os personagens de Meyrink: o Golem, ou o feiticeiro
tibetano de Fledermäusen (Morcegos), que desencadeia a guerra mundial pela
magia. Evidentemente, Meyrink não aprendeu isso comigo. Foi uma produção
espontânea do seu inconsciente, que deu forma e palavra a uma sensação
semelhante à que a minha paciente projetara em mim. O tipo feiticeiro também
aparece no Zaratustra; no Fausto, é o próprio herói. A imagem desse demônio
deve pertencer a um dos estágios mais elementares e arcaicos do conceito de
deus. É o tipo do primitivo feiticeiro da tribo ou xamã, personalidade dotada
de poderes excepcionais, carregada de força mágica.5 Freqüentemente aparece
como uma figura de pele escura, de tipo mongolóide, quando representa um
aspecto negativo, eventualmente Perigoso. Às vezes é difícil, quase impossível,
diferenciar essa figura da sombra; mas quanto mais dominante for a nota mágica,
mais fácil a diferenciação. Isso não é de pouca importância, visto que pode
revestir-se do aspecto muito positivo do velho sábio.
O conhecimento dos
arquétipos significa um avanço importante. O efeito mágico ou demoníaco sobre a
pessoa do outro desaparece, porque a sensação perturbadora é restituída a uma
dimensão definitiva do inconsciente coletivo. Em compensação, é-nos proposta
uma tarefa totalmente nova: a questão de como e de que maneira o eu deve lidar
com esse não-eu psicológico. Será que basta constatar a existência atuante dos
arquétipos, abandonando o resto à própria sorte? Assim criaríamos um estado de
dissociação permanente, isto é, uma cisão entre a psique individual e a psique
coletiva. De um lado, teríamos o eu diferenciado e moderno, de outro, uma
espécie de cultura negra, um estado primitivo. O estado real e atual das coisas
ficaria assim exposto a uma nítida separação: por cima, a crosta da
civilização, por baixo a besta de pele escura. Tal dissociação exige contudo
uma síntese imediata, e o desenvolvimento daquilo que não está desenvolvido. É
imprescindível reunificar essas duas partes; em caso contrário, não haveria
dúvida quanto ao resultado: o inevitável aniquilamento do primitivo, pela
repressão. O único meio de evitá-lo é que uma religião válida, ainda viva,
proporcione condições satisfatórias para que o homem primitivo se exprima
através de uma simbologia fartamente desenvolvida. Em seus dogmas e ritos, essa
religião necessita de imaginação e ação, inspiradas no que há de mais arcaico.
Isso se dá no catolicismo: é sua maior força, mas também o seu maior perigo.
Antes de entrar na nova questão da reunificação, voltemos ao sonho que nos
serviu de base. Essa explanação deu-nos uma melhor compreensão do mesmo,
sobretudo de uma de suas partes essenciais: o medo. Esse medo é um medo arcaico
dos conteúdos do inconsciente coletivo. Vimos que a identificação da cliente
com X revela simultaneamente sua relação com o artista que a perturba. Ficou
demonstrado que o médico foi identificado com o artista e, além disso, passando
ao nível do sujeito, eu era uma imagem da figura do feiticeiro em seu
inconsciente. O símbolo do caranguejo abrange tudo isso no sonho: o símbolo
daquele que retrocede. O caranguejo é o conteúdo vivo do inconsciente, que não
pode ser simplesmente esgotado ou anulado por uma análise ao nível do objeto. O
que pudemos conseguir foi o desmembramento dos conteúdos mitológicos da psique
coletiva dos objetivos da consciência e sua consolidação como realidades
psíquicas exteriores à psique individual Através do ato do reconhecimento,
"estabelecemos" a realidade dos arquétipos, ou mais exatamente,
postulamos a existência psíquica desses s conteúdos, com base no reconhecimento.
É preciso constatar, expressamente, que não se trata unicamente de conteúdos
reconhecíveis, mas de sistemas psíquicos trans-subjetivos, amplamente
autônomos, e, portanto submetidos só muito condicionalmente ao controle do
consciente e provavelmente até lhe escapando, em grande medida.
Trecho extraído do
livro Psicologia do Inconsciente
Caracterização
Astrológica:
Pelo mapa astrológico de Carl Gustav Jung constam os seguintes
indicadores numéricos conforme as posições dos planetas e considerando ainda
outros fatores principais:
Neste caso, em
conformidade com o assunto descrito é importante salientar que, a Lua no mapa
astrológico de Jung, muito forte no signo de Touro pela Casa III, identifica o
número 74 que representa entre outros significados, também esse denominado
Inconsciente Coletivo. A Lua que caracteriza a potencialidade emocional, nesta
situação representa um forte fator pelas intensas experiências de Jung nesta área.